18.4.11

Passáro


{...De tempos em tempos, as almas que trafegam para a funesta e aterradora Aldeia dos Passáros travam batalhas, devendo enfrentar, com suas próprias forças e astúcias, a fúria dos seres alados que atacam com irresistível violência sob o olhar gélido e fixo do Falcão. Senhor da terra, juiz e árbitro implacável, ele está ali sentado, a espera de suas vítimas. Se uma alma se deixa vencer, é devorada pelo passáro atroz. Se derrotar os inimigos, será adornada com suas penas e voltará em triunfo a Aldeia do Céu onde, imperturbável entre as estrelas, viverá até o fim dos tempos...

“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?
Esta ideia nos parece estranha.
Se não possuímos o frescor do ar, o brilho da água,
Como é possível comprá-los?

Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo.
Cada agulha de pinheiro, cada punhado de areia das praias,
A penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir
A seiva que corre pelas árvores
Carrega junto a memória do homem vermelho.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra,
Quando vão caminhar entre as estrelas.
Nossos mortos jamais esquecem desta bela terra
Pois ela é mãe do homem vermelho.
Somos parte da terra e ela é parte de nós.

Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.”

Trecho da resposta dada por CHIEF SEATTLE ao presidente dos Estados Unidos quando, em 1854, o governo americano fez a proposta de compra de uma grande área de terra indígena, oferecendo em troca a concessão de uma Reserva.}

Retirado do livro XINGU Território Tribal de Maureen Bisilliat e Orlando e Claúdio Villas-Bôas.