21.9.10

Apesar dos pesares Amar e Mudar as coisas, ainda me interessam mais...

Quando se compra uma ilusão, a desilusão já está inclusa no pacote. As vezes bem no fundo dele, escondida como uma figurinha de salgadinho que você acredita que não veio.

Desde que comecei a entender a minha necessidade de espiritualidade eu sempre tive muito medo das desilusões, principalmente pela minha(ou nossa, sei lá) neurose derivada da vontade sempre urgente de se sentir no controle. Ainda bem que a carência de coisas além da matéria foram mais fortes que isso, já que os ganhos foram e estão sendo enormes. Porém com o passar dos anos não consigo evitar um olhar um tanto indulgente com algumas manifestações que considero pura ilusão. Isso talvez seja muito pretensioso da minha parte confesso, mas também é verdade que algumas descobertas se sustentam unicamente no sentimento que se tem sobre a total veracidade nelas, resumindo: pela fé. E eu realmente acredito que muita coisa que está acontecendo não ultrapassa a casca dos sentidos.

Como disse o amigo Gustavo certa vez em uma conversa: “parece que as vezes a espiritualidade é só uma roupa bonita”. Acredito que seja isso mesmo para muitos, um acessório, algo para combinar com a sua sandália com o seu corte de cabelo, ou sei lá mais eu o que! Isso beira muitas vezes a frivolidade, uma desculpa para a vida fácil ou para a falta de respeito com o sentimento dos outros. Psicodelia (decidi usar essa palavra sem constrangimento, apesar dos vários sentidos superficiais que ela carrega) é mais que tomar Ayahuasca, LSD ou fumar maconha. Mais que tatuar um Ganesh no braço ou ler Castañeda. Psicodelia para mim é perceber os sinais de fora ecoando dentro de você, se enxergar no outro, por mais desagradável que isso possa ser. Também é entender que carregamos em nós mesmos o poder de fazer o mal e que muitas vezes usamos esse poder. Para entender o que é psicodelia só é preciso vontade de olhar para dentro. Nada clamoroso, heróico ou romântico, eu sei, mas é a verdade.

Certo, bem legal, mas agora alguém pode me perguntar: pra que tudo isso, ou por que chamar com esse nome? Sem receber nenhuma indagação do tipo de fato eu mesmo respondo: não importa nem um pouco o nome que se dá, o importante é que isso sirva para fazer da passagem por essa bolota de terra, água e ar seja mais harmoniosa e equilibrada. Eu dou o nome que encontrei, você pode dar o nome que quiser ou mesmo nem dar nome. Os nomes são importantes para pessoas desconsoladamente racionais como eu.

“Eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais. A minha alucinação é suportar o dia. Amar e mudar as coisas me interessam mais”.

Acho que citações costumam soar pedantes, mas tenho que admitir que o Belchior disse isso muito melhor do que eu jamais conseguiria.

Muita gente nem sabe nada de hinduísmo, nem de física quântica, nem de xamanismo, mas sabem viver muito melhor do que eu que procurei essas coisas para viver melhor, minha avó, Dona Maria é assim, vive bem com ela mesma e com os outros. Isso sem sequer saber quem foi Timothy Leary ou Srila Prabhupada. Vive bem simplesmente porque entende com o coração, que compreender a si mesma para compreender e respeitar os outros, é essencial para se viver nesses tempos de desequilíbrio.

Não digo essas coisas para desmerecer as pessoas ou culturas citadas. São todos caminhos para a compreensão. Mas a partir do momento que isso cega as pessoas e distancia cada vez o que elas falam do que elas fazem, me desculpem mas isso não é diferente pra mim de alguém que precise ter o tênis X para parecer um pessoa Y. Como podemos criticar o consumismo desenfreado e o materialismo irresponsável, se a relação com a nossa espiritualidade está contaminada pelo mesmo tipo de pensamento!?

Posso estar sendo apenas rabugento, e de fato sou um pouco, mas acho importante prestar atenção nessas coisas. Afinal de contas nada é sempre agradável e o caminho para a “expansão da consciência” (tan tan tan taaaaaaannnnn!!!!) não seria diferente.